Alimentação não é só nutrição. É a atividade solidária mais importante entre todos nós, pois ela sana a fome, a má nutrição e desde sempre exige-se que seja feita no coletivo, compartilhando — exercendo a generosidade. A alimentação deve ser sustentável porque devemos ser capazes de continuar plantando alimentos para que os mesmos não desapareçam. E por último, e não menos importante, a alimentação educa através da Mulher que busca, escolhe, prepara e alimenta. Ao longo da vida educamos nossos ouvidos para a música; a visão para as artes; as Mulheres também se encarregam de educar o tato, o olfato e o paladar — quando preparam os alimentos. Essa é a diferença entre simplesmente se alimentar para satisfazer a fome entre comer aquilo que responsavelmente foi escolhido, preparado e servido num ato de generosidade. A alimentação agrega as pessoas. Todas as atividades culturais tem a capacidade de alimentar, educar, agregar e satisfazer os nossos sentidos.
O Comida da Horta vêm se apresentar para aquela que hoje detém o papel político mais importante na sociedade, a Mulher. O assunto escolhido para estabelecer um diálogo com a Mulher, é a alimentação e tudo o mais que compõe o prato do dia a dia, especialmente o ato político da mulher à frente da alimentação. Pois, no estresse do final do dia de trabalho é difícil reconhecer qual o papel político (dentre as atividades) que desempenhamos nas últimas vinte e quatro horas sem se dar conta (em função do cansaço e acúmulo de tarefas).
Tudo o que envolve o alimento depende da política e reflete na economia do nosso lar. Nas décadas de 1960 e 1970 o governo brasileiro comprava o alimento mais caro do mundo e jogava no mercado especulado, cujo preço quase que dobrava pois, era intermitente a chegada dos produtos e o consumidor brasileiro pagava o preço mais alto do mundo – consumindo sua renda familiar para alimentar a família. Quem gasta metade da renda familiar com alimentação não dispõe de dinheiro do seu salário para vestuário, cuidados com a saúde, investimento em moradia, transporte, educação para os filhos e lazer. Era uma realidade que chocava o País. O que vivíamos naquela época, hoje, é a realidade de Bangladesh – um país asiático, dos mais miseráveis do mundo.
Em 2000, o Brasil já tinha quase conquistado um equilíbrio nas suas contas. O Brasil não quebraria. Houve uma mudança substancial no setor produtivo através da evolução tecnológica, da produtividade e sua capacidade competitiva havia absorvido 70% do valor do alimento para as famílias brasileiras e, oferecia o alimento mais barato, na margem de 14 a 18% da renda familiar.
Hoje, o desequilíbrio econômico está fazendo com que os governos coloquem mais tributos em cima dos alimentos in natura, de forma indireta. O valor desses alimentos consome entre 20 a 30% da renda familiar, dependendo da região. Cuidado! As famílias estão comprando alimentos com valores incompatíveis com os salários recebidos. E o que a Mulher tem a ver com tudo isso? A resposta está no papel político que a Mulher desempenha hoje, sendo chefe de família, consumidora e educadora de valores ao administrar o lar. Porque quando a Mulher paga um preço justo pelos alimentos in natura, aí, de fato, consegue fazer poupança, dar melhores oportunidades aos filhos e ter projeto de vida, pensar no futuro e não apenas nas contas do mês.
A ação política da Mulher e o que a sua escolha pode resultar, está demonstrado na recente matéria (de fevereiro) do Financial Times, Estados Unidos; onde as três gigantes da indústria de alimentos, Kraft Heinz, Coca-Cola e Danone anunciaram resultados menores para o quarto trimestre, demonstrando o abandono pelos consumidores de produtos que deliciavam gerações anteriores – de queijo industrializado fatiado a refrigerantes com teor de açúcar de 31g, em favor de alimentos alternativos mais saudáveis.
O papel político da Mulher está presente em todas as suas escolhas.